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Autora: Lúcia Helena Tavares Viegas.
Orientador: José Vitor Bomtempo Martins.
Esta pesquisa tem como objetivo compreender as condições que determinam uma inovação radical, i.e., aquelas associadas a uma mudança de paradigma no sentido empregado por Thomas Kuhn. Para tal, propõe um modelo analítico fundado na perspectiva estruturalista, característica dos estudos do domínio das Ciências Humanas/Sociais, que busca examinar o fator que mantém um sistema coeso como estrutura social. Esse modelo, constituído de três dimensões analíticas - ciranda das relações, força de coesão e degraus de transmissão -, pôde ser validado para avaliar o potencial para inovação radical embutido na mudança de base de matérias-primas da indústria química de fósseis para renováveis, caso de estudo da pesquisa, desenvolvido por uma pesquisa de campo qualitativa de caráter exploratório, junto a executivos de organizações dos sistemas empresarial, governamental, financeiro, de ciência e tecnologia e de mídia.
Os resultados da pesquisa evidenciam, que diferentemente do cânone contemporâneo, uma organização nacional individualmente não dispõe de autonomia para desenvolver inovações radicais e alterar um paradigma, dado que as condições para desenvolvimento de tais inovações não são diretamente dependentes da capacidade de uma organização de acumular conhecimento e capacidades tecnológicas e de traduzi-los em fontes de vantagem competitiva, e nem estritamente de políticas governamentais.
As inovações radicais são resultantes de uma alteração de uma conformação de um modo de produção e de um modo institucional, em uma efetuação simultânea. Isto é sugerido pela realidade do modo de produção da sociedade atual, que parece não ser um modo de produção capitalista, nas suas tradicionais modalidades - industrial, comercial, ou financeiro -, mas um modo de produção com características feudais. Tal modo de produção suporta e é suportado por um monopólio de conhecimento e inovações, que é manifestação de acordos tácitos e explícitos entre lideranças de governos nacionais e empresas transnacionais, resultantes de processo de alianças estratégicas sucessivas entre milhares de empresas. Este monopólio estabelece e sustenta a integridade de um paradigma. Inovações radicais são determinadas por virtualidades - o regramento das vontades coletivas, interesses individuais, leis econômicas, tecnologias, quadros políticos, etc. -, que mantêm uma determinada conformação sistêmica como um campo unificado, e que são dadas antes do sistema ser reconhecido enquanto tal. Essas relações e conformações de forças econômicas, sociais e políticas existentes entre empresas e países podem inibir ou induzir processos de inovações radicais. O potencial para inovação radical na mudança de matérias-primas na indústria química para renováveis se expressa pelas virtualidades mencionadas.
A partir dos resultados das entrevistas, foi possível inferir que um poder de classe de âmbito internacional composto por empresas nacionais e organizações governamentais se constituiria em um dos agentes para liderar uma construção para inovação radical no Brasil, inclusive via renováveis como insumos químicos.
Esta pesquisa abre novo espaço teórico para estudo de uma inovação radical, no âmbito do qual dados empíricos obtidos junto a organizações atuantes na indústria química podem ser interpretados, bem como para revigorar o debate sobre o papel de estratégias e políticas de empresas e governos na complexa dinâmica de um processo de inovação radical.